terça-feira, 14 de julho de 2009

Para Dorothy Parker

O Chato

Posso? Não. Está sozinha? Silêncio. Vem sempre aqui? Olhar levemente assombrado por tanta falta de sifragol. Está com alguma amiga? Ah, deixa eu adivinhar – já sentando. O seu nome é Mara... Mara... vilha. Ela se engasga com o vinho. Cavalheiro, por favor... Não fique encabulada. Você é tímida? Eu nem... olha, estou esperando uma pessoa. Vem sempre aqui? Diga apenas o seu nome, deve ser lindo... um nome de princesa. Começa a se abanar, pensa em trocar de mesa. Moço, eu... Não fique brabinha, mas sabe que você... brabinha, fica linda? Procura com os olhos o socorro de um garçom, mas estão todos ocupados. Faz menção de se levantar. Por favor, só cinco minutos, cinco minutos ao seu lado e será a glória! Não, não é esse o meu nome, quase se arrepende da bobagem que poderia lhe custar mais dez minutos de aporrinhação. E que felizmente nem foi percebida. Mas... afinal, você não vai me dizer qual é o seu nome? Nem sei se tenho nome. Pega uma de suas mãos e a beija. Assim já é demais. Que perfume você está usando? De novo, olha em torno, desesperada. O segurança está lá fora, muito ocupado em revistar as pessoas para não deixar entrar nenhum chato. Só uma dança, então... Se você me conceder só uma dança, prometo que vou embora, para sempre... Olha aqui! Saia imediatamente! Você está abusando da minha paciência. Ele sai, até que enfim, com uma cara desconsolada. Ela agradece aos céus. E se sobressalta. Acaba de ouvir sua voz, na mesa de trás: Olá!... Meu deus! O cara não se toca! – reclama para uma platéia invisível. Tá, me dê pelo menos o seu celular... De saco cheio, confere as horas no relógio de pulso. Só o telefone, então... E volta para a mesa, encarando-a com olhos fingidamente súplices. Ao mesmo tempo que os espicha até as pernas da garota que acaba de passar. Meu deus o que é que eu fiz!... Vá com ela, pelo amor de Deus, garanto que ela lhe dará bola! Perto de você todas são meras imitações. As outras são luminosas, você é iluminada... God!!! De onde é que você tira tanta... ah, deixa pra lá. Por favor, eu lhe imploro... Estou esperando uma pessoa que pode não gostar de lhe ver por aqui. Pior pra ele, eu não sou ciumento. Ok. Quanto você quer pra ir embora? Também assim já é demais. Agora eu me ofendi, agora eu sei que não sou querido por aqui... Mas não faz nada pra sair. Numa boa... só o celular. Tá eu me retiro. Você diz isso pra me alegrar. Fazendo voz e tom de menininho de cinco aninhos: só tentei numa boa, não quer não quer, aliás, quem não quer já tem. Ela começa a perceber que o teto do lugar está descascando. Passa uns segundos assim. E de repente... se dá conta. Ele se foi... Ele se foi? Calma, é cedo para comemorar. Segurando a respiração, espera mais um pouco pra dar um suspiro de alívio. Se foi?... Será verdade? Estou livre?... tamborila na mesa... tamborila na mesa... olha a porta... volta ao teto... olha as unhas, gosta daquele vermelho. Coça o queixo, e dá um suspiro. Saco! Ninguém para conversar! Se ao menos aparecesse alguém, qualquer um.

3 comentários:

  1. parabens pelo BLOG...adicionaei vc em meus blogs favoritos...
    abraços

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  2. suzana, é sim de doer, mas nem sempre a gente se abre para o outro, mesmo q a "abordagem" seja legal. moro só e de vez em qdo vou até uma feira de comidas as mais variadas q tem numa praça nem tão perto daqui.
    .
    chego e já vou pra uma mesa pedindo uma cerva.
    e olho em volta de mim. famílias e crianças, um ou outro casal de namorados, estudantes da ufmt, um ou outro conhecido. peço o sanduiche
    natural que mais adoro: pão árabe com verduras
    e frango desfiado. vario de vez em qdo pedindo
    um peixe delicioso.
    .
    e não é que vira e mexe alguém se senta comigo
    e é um palavrório só. foi nela q conheci o hj,
    grande amigo q cuida de cães abandonados. e já
    aparecem engraçadinhos, mais jovens q eu, e com eles converso sobre tudo. sempre me trazem
    pra casa. e os "homens feitos", ah! sempre são
    os mais chatos. rsrsrs. entende porque, não?
    .
    meus filhos acham esse meu sair só, um perigo!
    qual o que? sempre fui assim, não se lembram?
    o perigo mora aqui ao lado. nele fico de olho bem aberto. bom dia, boa tarde e quase sempre,
    nem isso. intuição, suzana. rs
    .
    mas que ela bate e temos q reagir, ah, temos.
    ninguém o fará por nós. já pensou qta gente tá
    perdendo a oportunidade de conhecer essa bela
    suzana?
    .
    abrs q agora vou ler o post sobre "solidão".

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